Uma necessidade …

Com o tempo, urge a necessidade de te fazer esquecer, por outro lado urge a necessidade de não te querer esquecer; baralhaste-me o pensamento, baralhaste por completo todas as minhas ideias e pensamentos assim como a lógica, a que eles lhe está imputada toda uma ordem técnica e sequencial do pensamento binário, a que a maioria está programada para seguir no curso dos dias.
Tu foste aquele alguém, cuja a identidade, permanecerá num mistério dos arquétipos da perfeição, da divindade que me surgiu nos braços, quase sem te tocar, recordo agora de memória, todo aquele momento que guardo na minha mente, e em nada mais que a minha mente, o local, o dia, a hora, o estado do tempo, o meu estado de espírito, o meu sentimento, por, finalmente, te conhecer. No meio de tudo isto recordo e guardo naquele cantinho da memória toda a história, que envolve tudo o resto, tento preserva-la tão sentidamente quanto o sentido que a Vida nos traz para a linha contínua corrente do pensamento; e da acção numa estrada onde os buracos são mais que muitos, tal como se de uma estrada desasfaltada se tratasse, onde o perigo espreita a cada recta curvilínea. Sinto, e acuso, a falta de uma boa dose de palavras que talvez tenham sido necessárias e que continuam a fazer falta no universo que gira em torno de mim, ou no qual eu giro em torno dele, talvez preferiria que a Inquisição fizesse a mim o que iria fazer com Galilei. No entanto em sana consciência reconheço, que a Vida é um caminho de aprendizagem, e tal como um bom discípulo reconheço que aprendera com Mestre na área, os ensinamentos proferidos pelas acções da Vida foram a arte da nova experiência no actual estado da arte; e nisso, com isto, devo-te um voto de gratidão por toda uma ciência que não se aprende nas tradicionais academias, mas sim apenas e só na academia da Vida, onde se julga e nos julgam como se objectos nos tratássemos, e onde a jurisprudência essa não se escreve nem se transcreve como se de verdadeiras jus se tratassem.

Por ti surgiu a necessidade de fazer um pouco de tudo, por ti sorri e fiz sorrir, por ti chorei e quase que fiz chorar, mas pelas saudades ainda mais que imaturas, mas que maturaram, foram sempre aparecendo e ao de leve continuam a crescer, naquele que é o lugar mais secreto e seguro que tenho, naquele sítio onde poucos conseguiram aceder, os raros que fazem parte dos poucos; o sítio de todas as transformações, de todo um depósito de memórias que pelas forças invisíveis são preservadas; local onde quem entra deixa, obrigatoriamente, um pouco de si, mas não parte vazio, parte sempre com um pedaço que será secreto e intemporal, pedaço esse que poder-se-á não ser de revelação instantânea, mas que numa marca lá longínqua ou cercana poderá despontar um sentimento que preencha um vazio que, só o tempo o saberá como será.

O amor é por regra, ou por costume, uma sequela passada em dois actos distintos, mas que maioritariamente correm a par um com o outro. O acto dos proveitos e o acto dos sofrimentos, o primeiro dá-se com a paixão, o embranhamento pelo outro, pelo indevido e pelos seus traços tanto físico como os demais traços que não são visíveis com os olhos, mas sim com a alma; o segundo com a ruína,com a queda que nos faz, quase que, perder a vontade de quase viver e seguir em frente. Mas na parte da componente binária podemos ainda distinguir tal como Phillippe Besson o fez outrora, o amor pode ser a composição de duas partes da partitura, as colcheias e as semi-colcheias, as primeiras são as receptoras da divindade e do endeusamento que este provoca, as segundas são as dadoras que em menor quantidade são receptoras desse tal amor apaixonante que não é retribuído na mesma forma. O amor demonstra uma quantidade imensa de formas e feitios, todavia cada vez mais verificamos serem distintos de pessoa para pessoa, de indevido para indevidos; todos nós temos visões singulares do que é o amor, do que é a paixão e até mesmo do que é o romance; e ainda bem que as temos, porque tal como dizemos, se todos gostássemos do mesmo só haveria uma cor, uma forma, um padrão, não seríamos humanos seríamos seres prefeitos e não errantes porque a linha seria toda igual. No entanto quando de amor se trata, parece que todos quereríamos mais simplicidade, porque tantas são as vezes que interpretamos as palavras do outro de uma forma errada, por palavras conseguimos dissimular tudo aquilo que sentimos; quando estamos felizes e radiantes transmitimos-las logo à outra parte, mas quando o sentimento é o inverso, já mais as transladamos para o universo das palavras, porque não queremos que o seu receptor saiba a legítima verdade do sentimento que nos assola a alma.

No fundo a Palavra consegue ser um difusor das alegrias, mas já mais conseguirá ser um retransmissor das tristezas, salvo se conhecermos verdadeiramente e genuinamente o operador do sinal por detrás do difusor.

Hoje tornou-se uma necessidade escrever este inédito, rascunhado e publicado em menos de vinte e quatro horas; hoje tornou-se numa necessidade dizer-te o quanto te agradeço ter conhecido; hoje tornou-se uma necessidade dizer que talvez te tenha amado e te ame, como raras foram as vezes que amei alguém; hoje tornou-se também uma necessidade saber que te tenho de deixar partir, tornou-se uma necessidade libertar a tua alma e ver-te feliz, pois se realmente amaste ou amas alguém compreenderás a necessidade de quanto ver o outro feliz, nos preenche todo o vazio que permanecerá neste que poderá muito bem ser um fim. Na Vida as coisas não têm todas elas necessariamente que ter um fim, podem ter as chamadas divergências dos caminhos paralelos, uma visão apreciada por poucos, mas na nossa história de todos os actores que de uma forma ou de outra tomaram o temporis papel principal não têm necessariamente que desaparecer, podem ficar sempre em papéis secundários, cabendo aos seus escribas fazerem tratados de uniformização das sequelas e, para todo o sempre, a história será recordada como aquela que foi escrita, e, não havendo o contraditório será sempre esta a verdade factícia, que poderá ser fictícia ou real.

E tu que consideras o que é o amor? Poderá o amor ser uma porta para algo que nunca saberemos o que realmente é? Consideras que podes agradecer ao outro o que realmente ele te ensinou neste campo??

Nota – O autor reservou-se ao direito de inventar palavras fora do léxico linguístico português, palavras essas com sentidos de senso comum e de fácil interpretação; encontrando-se as mesmas devidamente assinaladas no curso do texto.