Um brinde à festividade

Parece que hoje, é uma vez mais dia de (véspera) de festividades de Natal. Mas serão estes novos tempos, tempos de harmonia de significado de Paz e Alegria a uma escala maior que a egocêntrica mesa da consoada;  não serão estes novos tempos, pré-temporada algo mais parecido com o caos? Será uma época num ano completo capaz de cambiar todo um espírito humano? Tantas poderiam ser as especulações que podemos fazer quanto a tudo isto e a muito mais; no entanto eu sou apenas mais um Zé que paga os seus impostos e que exige o respeito pelo cumprimento dos deveres normais, mas contudo não tenho qualquer autoridade para me levarem a sério, este espaço são apenas pensamentos escritos.

Ora vejamos os meus pontos de vista.

Ao nível histórico-teológico

Os pergaminhos do almanaque romano, a festa já era celebrada na urbe (em Roma) no ano de 336 d.C.. No Império Romano do Oriente, a comemoração era a 7 de Janeiro (tal como ainda é hoje proferido pela igreja ortodoxa), não por ocasião do nascimento, mas sim pelo seu baptismo; tal se devia ao facto da não aceitação do calendário Gregoriano, há época vigorava o calendário Juliano de 46 a.C.. A comemoração há data de 25 de Dezembro para o Natal e o 6 de Janeiro para a Manifestação, só assim o passou a ser no séc. IV quando as igrejas adoptaram por definitivo as datas referidas; passando assim a Epifania do dia 6 de Janeiro conhecida como a visita dos Magos. No entanto a celebração do Natal de Jesus só foi instituída pelo Pala Libério em 354 d.C.; tendo mais tarde, em 529 d.C., o Imperados Justiniano declarado o dia como dia feriado no império. Os estudos já realizados revelam que a data de 25 de Dezembro não corresponde com a data do nascimento real de Jesus. Por seu turno a Igreja decidiu que devia cristianizar as festividades pagãs que os diversos povos celebravam por altura do solstício de Inverno. Ou seja, o dia 25 de Dezembro foi adoptado para que coincidisse com as festividades romana dedicadas aos “nascimento do Deus invencível Sol”. O povo romano comemorava a Saturnália, a festa em honra de Saturno (Deus), comemorada entre os dias 17 e 22 de Dezembro, sendo este um período de alegria e troca de presentes; já o dia 25 era tido como o dia do nascimento do Deus Mitra (mitologia persa), que simbolizava o Sol da Virtude. Portanto, ao invés de proibir das festividades pagãs, a igreja acresceu-lhes e concatenou mais simbologia cristã; quando os profetas católicos proferem por estas alturas o simbolismo de Cristo como “o sol da Justiça” (Malaquias 4:2) e a “luz do mundo” (João 8:2) estão apenas a expressar o sincretismo religioso. Para terminar este breve enquadramento histórico-teológico devo ainda referir que do ponto de vista esotérico o nascimento de Cristo está directamente ligada o sentimento “Salvator Salvandus ” ou o Redentor, tendo depois toda e cada figura da composição do presépio um significado específico.

Podemos assim considerar que esta tradição das oferendas entre as pessoas já uma tradição mais antiga do que aquilo que a maioria de nós pensaria que fosse.

E ao nível da actualidade

No mundo da era contemporâneo, aquela em que vivemos, o Natal tornou-se em algo ilusório, como grande parte das nossas vidas; mas bem ainda existem excepções, excepções essas que não olham ao consumismo, mas sim aos sentimentos. Por esta altura fala-se muto em sentimentos, sentimentos para aqui, sentimentos para ali; mas que raio, onde é que param esses sentimento ao longo do ano? Não seria tão mais fácil se olhasse-mos e zelasse-mos constantemente por o manter sempre ao longo do ano, claro que seria, mas depois, claro está teria-mos que inventar uma coisa nova para esta altura. Não falo só do sentimento entre a familia, ou aquele que não sendo da nossa família considera-mo-los como tal, falo sim do aspecto geral da sociedade tal e qual como ela está; não seria por vezes tão mais benéfico se tratássemos todos por igual, sem desprezar ninguém por ter um título académico superior ou inferior ao nosso, quem diz títulos académicos diz graus hierárquicos, entre tantas outras definições. Ao longo dos anos tenho constatado que pelos sitios por onde passo, tenho criado relações de empatia com as demasiadas pessoa com quem me relaciono, tanto académicamente, como profissionalmente, como pessoalmente; no meu dia-a-dia fazem parte do meu strictus rito a prática de um “Bom Dia” ou “Boa Tarde” de um “Até logo” ou “Bom Fim-Semana“, não nos sairá mais caro por proferimos tais palavras, mas sai-mos muito mais recompensados com os frutos do que vamos cultivando ao longo da linha. Por ser-mos animais de hábitos e rotinas, os frutos dessas tais sementes disseminadas são coisas tão simples como por vezes “Essa alma hoje anda por águas revoltas” ou “Aqui tem o seu cafezinho tal como gosta para que o menino se anime.“, terão estas recompensas um preço próprio, serão elas capazes de serem mensuráveis; não já mais, apenas e só um sentimento que nos preenche interiormente, nada mais; mas para que tal nos sacie é preciso deter-mos o requisito do altruísmo, coisa rara por estas bandas por estes dias.

A Família

Esta é também uma altura importante que serve para matar as saudades de quem passa tempo longe das famílias e das suas terras natais, por esta altura a sala dos rés-do-chão do Aeroporto de Lisboa, ou de qualquer outro, torna-se um local de sorrisos e de abraços esperados e de surpresas inesperadas, contudo dentro de dias o primeiro andar deste mesmo edificio será um lugar de lenços brancos, que ao mesmo tempo que acenam, limpam as lágrimas da saudade que já começa a apertar uma vez mais; mais um ciclo que se  fecha e outro que se reinicia.

“… por esta altura a sala dos rés-do-chão do Aeroporto de Lisboa torna-se um local de sorrisos e de abraços …”

Bem mas não nos precipitemos no futuro, devemos primeiro usufruir do momento presente. A familia pode ser um conceito claramente objectivo, mas também o pode ser um certo claramente genérico e lato, tudo dependerá da maneira como olhamos para ele e como o sentimos. Falo em sentido lato, quando me refiro a que família de laços sanguíneos, poderá ser um imensidão de gente, mas no entanto o cerne família ser restrito a um punhado de gente, contando aqueles que são mais próximos e que mantém laços de afinidade tão estreitos ao ponto de serem capazes de dar o “corpo às balas” por outro membro do clã; por mais que doa a realidade aos nossos olhos, nem todos estamos dispostos a morrer em prol de alguém que apenas sabemos que faz parte da família, talvez até haja é precisamente o contrário, membros desejosos que outros de desvaneçam no infinito para fazer um assalto às heranças; não coisas irreais, são factos e a realidade dos dias de hoje. A família é algo que geralmente só nos trás dores de cabeça, ou por uma coisa ou por outra, e muitas das vezes respiramos fundo e contamos números aleatórios para que tudo se circunscreva a apenas um circulo, mas muitas das vezes esses problemas extravasam os perímetros e acabam por romper diversas ligações paterno-filiais, que poderão ser apenas temporárias, mas também o poderão ser permanentes.

Ao longo da Vida vamos construindo alicerces fora do circulo familiar, e começamos a estruturar e a fortalecer ligações exteriores, estas relações que se vão criando ao longo dos tempos, podem ser de diversos tipos e com diversas tensões. Considero que apenas com o passar do tempo é que vamos aprofundando as relações sociais extra-familiares e, ao mesmo tempo, vamos aumentando a resistência às tensões externas que possam influências as decisões. Para que alguém extra-clã possa ser racionalmente e psicológicamente integrado numa relação inter sanguinius  é necessário haver provas temporais, e provas racionais de que aquele individuo possa integrar esse grupo muito restrito que nos é dado há nascença. São estas pessoas que entram nas nossa Vidas e no fim são capazes de “dar o corpos às balas” nas situações limite onde o tempo urge. Mas nos tempos que correm, apenas os mais afortunados conseguirão deter em suas Vidas estas raras pessoas, pois para tal não basta apenas querer, mas sim cuidar, e dar sem esperar nada em troca, nem mesmo o reconhecimento dos actos praticados. E eu posso-me considerar um afortunado nesta matéria, por nas minhas trincheiras ter aquelas pessoas que estarão lá, na minha luta não me deixando tombar no campo de batalha e obrigando-me a cortar a meta dos objectivos custe o que custar. Na Vida, não é preciso chegar em primeiro em tudo, por vezes há apenas que chegar, numa retrospectiva em que de todas as vezes que caímos, soubemos sempre levantarmos-nos e voltar a tentar até alcançar o fim esperado.

Para fechar este pequeno texto sobre a época natalícia, referenciar apenas que em algumas das mesas da consoada haverão lugar que ficaram por preencher por infortunios do passado, mas há que colocar um sorriso e honrar a memória dessas almas que, onde quer que estejam estarão certamente a zelar por aqueles que estarão nessas mesmas mesas.

A época é de alegrias e de ajuda do próximo, prorroguemos estes sentimentos para os 365 dias do ano e alegrem-nos como saudusistico povo há beira-mar plantado.

Hoje não haverá interrogação final, mas sim um brinde à festividade.