Nau da Bonança – Parte 2 – A Viagem

A Viagem

 

Depois de sair do porto guarnecida e abastecida com mais de cento e trinta toneladas de mantimentos e líquidos para seis meses, e carregada com cerca de mais dez toneladas de projecteis para as vinte e duas bombardas, e com cerca de sessenta homens a bordo, mais o seu ilustre Comandante, o Duque do Mar e das Tormentas, Sua Graça o Duque Domingues, Bonança seguia na sua velocidade cruzeiro entre os cinco e os seis nós hora, sem interrupções de navegação.

A esta nave tudo parecia ir de “vento em popa“, como já dizia o Povo, não havia tempo a queimar e todos os dias contavam, para resgatar algo que o reino perdera, algo que fizera abater o sorriso D’el Rei, com a preocupação deste caso. Bonança não só saíra da capital do Reino como uma missão de Salvamento, mas também saiu com uma missão de alto secretismo, confiada ao Duque por alguém da Alta Corte, para bem de Sua Alteza sem esta saber. Assim Sua Graça o Duque Domingues teria uma dupla missão, uma pública e outra privada que lhe fora confiada em segredo.

A determinada altura no Diário de Bordo de Bonança aparece a enigmática frase “… S.G.D.D. reiterou uma vez mais à tripulação que o tempo urge na busca do objecto perdido. …” mas que objecto seria este que toda a Marinha procurava? Era sabido pela tripulação que havia sido confiada uma missão privada ao comandante, mas nunca se pensaria que se houvesse perdido um objecto na Esquadra anterior, até porque para mais, dela nem sinais de Vida nos últimos anos.

A determinado momento o Diário Navegação Privado do Duque mostrava que o seu psicológico não se encontrava de todo bem, ora consta a seguinte inscrição neste livro “… Hoje a navegação far-se-á apenas ao Luar, com céu iluminado por Orion e as suas três Marias. Poderás entrar e sair da minha Vida, mas quando entraste não vinhas com nada, mas quando sais, sais com algo que afectará toda a tua Vida, por agora e por adiante! …” presume-se que o outrora Conde, tivera deixado alguma alma, e talvez rompido o coração dessa bela moça, para confiar a sua Vida pelo destino da Nação. No entanto todos os seus homens tinham-lhe plena confiança e acima de tudo respeito e brio na função que desempenhavam.

Certo dia Bonança depara-se com uma enorme tempestade que se abateu em pleno oceano. Uma completa tragédia, tal tempestade, partira parte do Mastro Central e rompera algumas das velas; a nave estava afectada, contudo haveria que manter a calma em todo este processo. A vida oceânica para além da sua dureza é feita muitas vezes de desastres, mas também muitas vezes da felicidade dos bons ventos que levam os barcos até bom porto.

Neste particular momento Bonança estava estagnada em alto-mar com algumas feridas por serem saradas, mas no meio de tantos males, não houve perda de Vidas neste acontecimento. A Nave tinha com ela, tudo aquilo que de mais especial, que era o seu nome, Bonança, e com isto a sorte da protecção dos audazes.

Toda a tripulação ficou abalada com o aspecto daquele que seria o regresso de algo ao porto da capital, grande parte dos homens pensaram que iriam fracassar, mas o Comandante, como homem sui generis que era, a certa altura, grita para que toda a tripulação se apresentasse na proa da Nau. Ali mesmo, também ele desmoronado por dentro, mas firme por fora, elogia todos os seus homens e reitera o bom trabalho que teriam feito até ali chegar e que se haveria de continuar a praticar.

Durante seis dias os trabalhos de reparação foram incessantes e incansáveis para todos, incluso para o próprio Duque que arregaçara as mangas e pusera mãos à obra. Os dias passaram-se e não havia meio da Nau ficar operacional, até que no último dia tudo correu como dentro previsto, mastro concertado e velas cozidas, havia só que efectuar uma única coisa; havia que aguardar pela ordem do comandante. Lá longe ouve-se “Asteiem-se as Velas e a toda a marcha”, e assim se voltava a navegar Oceano a dentro.

A viagem já levava alguns meses, e nada fazia animar o Duque, as suas esperanças estavam meio perdidas, até que o Gajeiro dá duas assobiadelas de apito e grita “Terra à vista“, aparentemente teriam cruzado o oceano inteiro, quando de repente o Gajeiro volta a grita, mas desta vez diz “Coroa à vista … Coroa à vista” era o sinal que algo se havia encontrado naquela missão!

Houvera ordem para que se aproximasse de Terra e da Coroa, todavia Sua Graça o Duque Domingues estava muito receoso do que ali se pudesse encontrar, e só isso já o deixava suficientemente em baixo, e estava a ser praticamente  impossível de recuperar o seu estado de graça. Contudo poderia ser agora a oportunidade de ouro que ninguém esperava depois de meses passados em alto-mar.

Fim da 2ª Parte

Este texto constitui-se como um inédito e não um acontecimento com validade histórica, nem relata qualquer acontecimento com relevância na História de Portugal ou de qualquer outro país. Por favor considere que todas as semelhanças com algum caso real serão mera coincidência factual, sendo esta uma obra ficcional inspirada na sociedade moderna, mas não em casos reais.