Ode à Pureza do Amor

“… por vezes queira sair dos portões do Éden …”

O amor expressa-se nas mais diversas formas, nos mais diversos feitios, nos mais diversos sentimentos. Quando aparece pode haver um lugar, uma data, uma hora um sentimento, uma palavra; ou por contrário tudo isto pode nem sequer ser recordado pelo recôndito das nossas mentes, quantas foram as vezes que nos apaixonamos no metro por aquela pessoa, por aquele corpo, por aquela fragrância vazia de novas palavras e idades e nomes, apenas uma declaração unilateral do instinto do corpo e da alma.

Tal como tantos outros vícios, o amor e a paixão talvez sejam o maior dos vícios carnais do Homem, aquele acontecimento que quando o Homem é banhado por ele, acaba por ser arrebatador e por vezes a loucura do corpo leva a que por vezes queira sair dos portões do Éden. Contudo o amor é um vício que tem que ser vivido a par, pois só o conjunto de ambos os corpos será capaz de colmatar a indiferença e fazer com que a intensidade seja capaz de vencer todas as batalhas que poderão existir nessa experiência.

Por amor cometem-se as maiores loucuras, as histórias mais rebuscadas para ver o sorrio na cara do outro, pois mesmo não sendo reciproco, o sorriso no rosto é uma das chaves que reabre o portão do Éden e da felicidade que detemos dentro de nós próprios. Contudo por vezes existem duas entidades distintas em todo este processo, porque o amor pode ser simples, mas os sentimentos esses na prática podem ser tão ferozes que mesmo à beira da loucura consegue ser insano aos olhos de todos os que vêm de fora. Quando o Amor não é correspondido e a paixão essa também escapa à outra parte, passamos a estar num limbo e a esperar que haja uma saída dessa roda-viva que a Vida por vezes é. É aqui que entra a loucura dos amantes, dos que vivem presos ao amor que por vezes acaba por ser meramente virtual; um amante é capaz de amar à distância e dizer tudo sem que o receptor das palavras se aperceba o quanto ele importa na Vida, o amante não fica com ciúmes da outra parte que partilha a Vida com o amado, não quer dizer que seja sempre assim; o amante fica feliz com meia dúzia de palavras e sorrisos, mas retribui com centenas de palavras em troca; o amante comete a loucura de andar na sombra e de ser invisível para ver se o outro está feliz e com um sorriso; o amante é um louco que espera por uma oportunidade que poderá nunca ter, mas nunca perde a esperança que tal aconteça.

“… o amor é um vício que tem que ser vivido a par, pois só o conjunto de ambos os corpos será capaz de colmatar a indiferença …”

O amante, em prol do amado, é capaz de combater e travar as mais duras batalhas nas trevas para que nada aconteça ao amado, estará até disposto a morrer pelo seu amado, coisa que talvez aquele que é o amante do seu amado não faria por este. A paixão e o amor são o maior vício e também a maior dor que o Homem pode ter na sua Vida, a maior droga que não tem cura, ou melhor o único antídoto para este amor reside sempre no coração do seu amado, naquele coração cujo a chave não possui para o abrir.

O amante é capaz de derramar rios e capaz de secar as suas fontes, e ao mesmo tempo transmitir pelas palavras ao seu amado uma sensação de profunda alegria no correspondente inverso sentido da sua alma, o amante buscará no céu estrelado a solução, a barragem dos seus rios no negrume das tempestades, pois sabe que um dia a Bonança atracará no porto e descarregará a felicidade que reverterá o negrume da névoa da tempestade.

O genuíno e verdadeiro amante consegue amar mesmo sem a paixão, todos aqueles por quem sente um carinho especial, pois o verdadeiro amante sente que o amor quando puro toma vários sentidos e formas e outra dessas formas que o amante se vicia é poder chamar aos seus irmãos de seus amores, nem todos os que conhece na Vida, são seus irmãos, nem seus amados, mas por vezes os seus irmãos que vai colhendo ao longo da Vida, podem ser alguns dos seus verdadeiros amores, aqueles com quem rimos, mas também aqueles a quem secamos as lágrimas com os nossos ombros, aqueles a quem confortamos na dor com os nossos abraços, aqueles a quem sem ter pedido nada em troca, temos o melhor da Vida, a sua genuína e pura Amizade como se de família se tratasse, a genialidade do verdadeiro amor duradouro está aqui neste pequeno segredo, naquele amor que liga a família, naquele amor que por vezes por ser tão puro é infinito passe o tempo que passar na Vida. Estes são os outros amados do amante. São os outros que colmatam tudo o resto, são o sustento do vício enquanto e quando o verdadeiro amado principal, o titular do papel principal não parece, todos estes servem para prolongar esse amor que ele consegue espalhar.

Pois por vezes estes outros amantes surgem do cruzar da Vida e começam por ser uma paixão que o vício e a pureza das almas faz com que se mantenham ligados uns aos outros, contudo estas paixões exigem um trabalho para que apenas fique o amor e se abula a paixão que atraiu ambas as almas, são trabalhos que nem sempre são fáceis para a cabeça, mas tudo isto faz parte do amor que está subjacente ao sofrimento que a pureza do sentimento [de] amar nos traz.

Sem a dor, o sofrimento, a agonia, o amor torna-se um sentimento vazio e sem nada para saborear, para realmente sabermos amar a nossa grande paixão primeiro temos que passar por todo o negativo para podermos balizar aquilo a que chamamos de felicidade, e da alegria genuína e pura.

Só saberemos amar loucamente quando alcançarmos o principio do abismo da loucura!

Por agora é tudo,

A pureza de um sentimento reluz das cinzas como a Fénix, talvez o amor seja essa tal Fénix escondida em todos nós, e que nos faz andar aos papéis muitas vezes.